
Dia 11 de novembro, no âmbito da 20.ª edição do Imagens do Real Imaginado, coordenada pela ESMAD P.PORTO, inauguramos o Ciclo de homenagem ao artista John Goto, falecido em agosto do ano passado, com duas exposições exemplares da sua extensa obra: Terezín (1988) e John Goto’s New World Circus (2007).
A sessão de homenagem, com curadoria de Olívia Marques da Silva, contou com a apresentação do filme Goto, l’ile d’amour (1969) de Walerian Borowczyk, cujo trabalho de câmara inovador, erotismo desafiante e narrativa surreal, impactou de tal forma a obra do artista que John mudou o seu apelido Glithero para “Goto” em homenagem a este filme de culto.
A casa esteve cheia de curiosos, familiares e amigos. Tivemos o privilégio de contar com a presença de Celia Goto, presença constante e inspiração para a obra do fotógrafo, Jada Goto e restante família, Brandon Taylor, professor e profundo conhecedor das exposições aqui representadas, Rosário Gambôa deputada e ex presidente da instituição entre muitos outros.
Foi Brandon que nos apresentou as exposições, primeiro Terezín, um conjunto solene de fotografias da antiga fortaleza de Theresienstadt (Lager de trânsito para as populações judaicas da Boémia e da Morávia com destino a Auschwitz) que se transmutou ao longo dos anos num conjunto de foto-pinturas construídas por métodos de montagem e médio-cruzamento como forma adulterada e sombria de uma possível narrativa do inferno da solução final.
Já a exposição John Goto’s New World Circus (2007), abandonamos as convenções do documental em favor do riso. Agora é o circo que dá o tom com o seu amor pelo exagerado, pelo improvável e pelo cómico. Vemos o próprio Goto como um mestre de cerimónias, conduzindo uma zombaria colorida e estridente do pessoal da chamada “guerra ao terror” desencadeada pelo presidente dos EUA, George Bush, em 2001. “As vinte cenas da obra são grotescas, paródicas e absurdas, além de barulhentas, violentas e zombeteiras – como que em reprise dos métodos satíricos de há muito tempo” – explica Brandon Taylor. Porque também estávamos no prelúdio da fotografia digital, Goto curioso da sua “qualidade amorfa”, semelhante, “à do sonho, da metáfora, da alucinação, da piada, da visão e de todo o tipo de truques, brincadeiras, desprezos de mão e ilusões”, inspirou-o a uma imagética de sonho e vigília, articulando amor e ódio, seriedade e riso, a beleza e o horror da estética com uma liberdade e poder notáveis.
Tivemos também a oportunidade de conhecer os vencedores da primeira edição do Prémio John Goto, a saber André Araújo, Beihua Guo, Maíra Ortis e Polina Schneider, aberto à participação de estudantes do ensino superior nas artes visuais (fotografia, vídeo, cinema, artes digitais, multimédia, design, artes plásticas), de qualquer nacionalidade, individuais ou em grupo.
A exposição está patente até dia 31 de dezembro.