Diz-se que a magia do Cinema está na capacidade de nos colocar no lugar de outra pessoa, como nenhum outro meio de expressão é capaz. Por essa razão, desde os irmãos Lumière, que nos tentamos desviar do comboio a avançar na nossa direção.
Com o tempo, e o contributo de nomes como Gaspar Noé, essa capacidade foi aperfeiçoada ao ponto de nos convencer que sabemos exatamente quem são aquelas pessoas na grande tela e a procurar, nas suas vidas, as respostas para as mais difíceis e importantes questões.
O que acontece quando morremos? Esta é uma dessas perguntas que atormentam a humanidade desde que viemos parar a este mundo…
Enter The Void (2009) é uma janela para a mente perturbada de Oscar, um americano que vive em Tóquio, com a irmã. A sua vida é marcada por um trauma de infância ao qual não consegue escapar. Sem mais ninguém com quem contar, Oscar encontra nos alucinogénios a solução para todos os seus problemas. Seja a falta de dinheiro, ou o que fazer para esquecer o seu passado traumático, as drogas estão sempre lá para lhe oferecer algum conforto e companhia. Sem outro propósito para além de cuidar da irmã, Oscar recusa-se a ser mais um escravo do sistema, mas quanto mais se debate, mais fundo se enterra.
Será ele capaz de mudar e evitar a inevitável tragédia que o espera neste caminho? Com Enter The Void (2009), o visionário realizador Gaspar Noé leva-nos a embarcar numa
viagem alucinante, onde os nossos maiores medos se tornam realidade. O controlo que julgamos ter desvanece-se, enquanto nos tornamos meros espectadores da nossa própria vida. As memórias tornam-se pesadelos e não há nada que possamos fazer, a não ser recordar, enquanto tentamos desesperadamente fugir aos arrependimentos que nos atormentam onde quer que vamos.
Bruno Mendes (LCA/ ESMAD