Maria de Fátima Lambert
Nas Coleções e nos Museus ‘residem’ conjuntos de objetos ou peças isoladas que não vemos e aos quais raramente se tem acesso enquanto visitantes regulares. Ao longo de pesquisa desenvolvida no âmbito deste projeto curatorial, mas ancorado no estudo desenvolvido no fio do tempo, selecionaram-se obras que respondem a dois eixos principais: o tempo (nas suas distintas aceções), o feminino/mulheres na arte e na academia. As presenças e representações mais literais convivem na documentação histórica; a pintura musealizada, a gravura pedagógica, o bordado figurado e o desenho académico/pedagógico acolhem a fotografia a desbravar a técnica, conciliadas na presença da escultura religiosa.
Configura-se um Cabinet de Curiosités “além-tempo”, segundo uma organização disruptiva [entre a estética e a epistemologia, residirá a poética] que ocupa as três salas do Centro de Cultura Politécnico do Porto. Simbolicamente, os conteúdos museológicos apresentados mostram a diversidade e a qualidade que carateriza a comunidade P.Porto, dialogando no entrecruzamento a outras instituições, pessoas, a múltiplos saberes e concretizações. Presentificam contributos imprescindíveis ao desenvolvimento humanista e qualificado de gerações, atuantes em múltiplos setores socioprofissionais.
Dá-se a ver e pensar o património artístico, museológico e documental de instituições responsáveis pela formação, apreciação e qualificação de nossas identidades singulares e coletivas. As obras escolhidas revelam memórias de outrora que habitam espaços emblemáticos da cidade. Sublinham a missão humanista que subjaz ao instituto politécnico sediado nesta cidade e polos da área metropolitana. A exposição reúne, portanto, objetos e ideias que favorecem experiências várias para o público: seduzem e amplificam conhecimentos; estimulam o gosto estético e a fruição artística; fomentam/consolidam hábitos culturais; consubstanciam o pensamento crítico; suscitam empatias de proximidade; incentivem pesquisas e partilhas entre gerações e comunidades.
Quando a academia se associa às unidades museológicas e culturais, o cenário expande-se e vê-se o não visto, desvelam-se mistérios “reservados”, emergem “relíquias”. Eis que, elementos inesperados dialogam entre si e connosco, contribuindo para dinamismos felizes que incentivam a projetos e realizações conjuntas.